quinta-feira, 16 de julho de 2009

Golpe de Estado em Honduras: Obama é inocente?

Será o presidente Obama inocente nos acontecimentos que se desenvolvem em Honduras, em particular o golpe de Estado do exército hondurenho que terminou com rapto e deportação forçada do presidente – democraticamente eleito – Manuel Zelaya? Obama denunciou o golpe e exigiu que se honrassem as normas da democracia. Contudo, continua a perdurar uma série de interrogações inquietantes.
Primeiro: Quase todos os oficiais superiores do exército hondurenho que participaram no golpe de Estado são diplomados pela School of the Americas, criada pelo Pentágono (e que muitos de nós chamamos "Escola de assassinos"). O exército hondurenho é aconselhado, equipado, doutrinado e financiado pelo Estado de Segurança Nacional dos Estados Unidos. É dirigido por generais que nunca se haveriam atrevido a mover-se sem o consentimento tácito da Casa Branca ou do Pentágono ou da CIA.
Segundo: Se Obama não está diretamente implicado, nesse caso podemos censurar-lhe não ter um controle firme dos agentes americanos, os quais estão absolutamente implicados no assunto. O exército americano estava informado do assunto e os serviços de informação militares americano também. Portanto teriam que haver informado Washington acerca dos fatos. Por que a gente de Obama, que se havia comunicado com os autores do golpe, não falou? Por que não revelaram e denunciaram o assunto, o que teria permitido fazer fracassar totalmente os seus planos? Ao invés disso, os Estados Unidos calaram-se a este respeito e o seu silêncio teve o efeito de omissão por cumplicidade, ainda que a intenção a princípio não fosse essa.
Terceiro: Imediatamente após o golpe de Estado, Obama declarou que se opunha à utilização da violência para efetuar uma mudança e que cabia às partes implicadas em Honduras solucionar os seus desacordos. As suas observações constituíam uma resposta tíbia a um golpe organizado por gangsters.
Quarto: Obama nunca esperou que houvesse tamanho escândalo em relação ao golpe de Estado em Honduras. Não se apressou a juntar-se aos protestos contra os autores do golpe até que se tornou evidente que a oposição aos golpistas era quase universal na América Latina e em outros lugares do mundo.
Quinto: Obama nada disse sobre os numerosos outros atos de repressão que acompanharam o golpe e que foram perpetrados pelo exército e a polícia hondurenhos: raptos, espancamentos, desaparecimentos, agressões contra manifestantes, encerramento da Internet e supressão de alguns dos pequenos meios de comunicação críticos que existem em Honduras.
Sexto: Como me recordou James Petras, Obama recusou-se a entrevistar-se com o presidente Zelaya. Ele detesta Zelaya, sobretudo devido aos seus estreitos laços políticos com Hugo Chávez, o presidente venezuelano. E, devido aos seus esforços reformistas igualitários, Zelaya é odiado pelos oligarcas hondurenhos, os mesmos que, desde há muitos anos, foram íntimos dos construtores do império americano aos quais serviram esplendidamente.
Sétimo: Segundo uma lei aprovada pelo Congresso americano, a todo país cujo governo democrático tenha sido vítima de uma intervenção militar deve negar-se a ajuda militar e econômica dos EUA. Obama ainda não suprimiu à ajuda militar e econômica à Honduras como deveria fazer de acordo com esta lei. Talvez este seja efetivamente o dado mais importante relativo ao campo que favorece. Como presidente, Obama tem uma influência considerável e conta com recursos imensos que teriam podido fazer fracassar o golpe e que poderiam, além disso, ainda ser aplicado contra os seus autores, com um efeito evidente. No momento, a sua posição a propósito de Honduras é demasiado suave e demasiado tardia. Como se passa na realidade com um número excessivo de coisas que empreende.
Fonte:
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/golpe-de-estado-em-honduras-obama-e-inocente/

3 comentários:

Donarte N. dos Santos Jr. disse...

Texto inquietante, caro Leonardo!

De todo o modo, o golpe de Estado em Honduras serve para nos fazer ver um dos problemas mais sérios da forma de governo que tem por nome “Democracia”. Vejamos:

i) a Democracia pode ser posta a perder por meios democráticos: era o que Zelaya estava tentando fazer. Como, Chávez, da Venezuela, ele queria modificar a Constituição do país para que pudesse se re-eleger mais de duas vezes. Ou seja, por meios democráticos, estava tentando abrir a possibilidade para uma ditadura.

ii) a democracia pode acabar consigo mesma democraticamente: segundo muitos, boa parte da população hondurenha não queria mais Zelaya no poder. Trata-se, então, de um paradoxo: uma população que, majoritariamente, elege um homem, mada-o embora às pressas. No mínimo estranho (possibilidade que o texto postado por ti, muito bem considera).
Obs.: quanto à simpatia popular à Zelaya, é válido dizer que os pobres e miseráveis de Honduras preferem ele. O problema está na burguesia (e, mais ainda, na elite), que o desaprova... A respeito disso ver um texto postado por mim em: http://assuncaoturma231.blogspot.com/2009/07/algumas-observacoes-sobre-tensao-em.html

iii) de fato os EUA só têm a ganhar com a eliminação de mais uma, digamos assim, sarna que poderia dar muita coceira...

iv) para finalizar, pergunto: realmente, quando a maioria decide por um homem para ser seu líder (como acontece na Democracia), sabe o que está fazendo!?

Veja bem, caro Leonardo, coloquei uma série de perguntas justamente para instigá-lo, e, claro, para provocar os demais.

E aí, pessoal?! O que vocês acham disso tudo!?

Aguardando mais posicionamentos,

Prof. Donarte.

Marcelo Amaral Barcelos disse...

I) o governo do povo, para o povo, e pelo o povo, está virando contra o próprio povo, com esse meio democrático Zelaya estava querendo favorecer ele mesmo.

IV)Sabem, mas muitas vezes não votam em um líder certo, aqueles que sabem enganar com as palavras.

espero ter me posicionado corretamente hehe...

Donarte N. dos Santos Jr. disse...

Concordo! E mais, Zelaya está querendo favorecer "ele mesmo" ou, também, mais alguém!?

Veja que este assunto se tornou especialmente novo em virtude das últimas notícias. Veja: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,na-onu-lula-exige-volta-de-zelaya-a-presidencia-de-honduras,439729,0.htm

A América está passando por um momento delicado. Emergem misturas de Democracia e Ditadura, todas elas disfarçadas...